domingo, 20 de setembro de 2015

MAURICIO DE SOUSA É STEAMPUNK!

     A descoberta de um mineral raríssimo, capaz de produzir, de forma barata, energia térmica e mecânica na forma de vapor, proporciona um salto tecnológico na vida de uma primitiva civilização, dando origem a maravilhas como as “naus voadoras”. Quando esse mineral começa a escassear, transforma-se em objeto de conflito entre duas facções daquela civilização, numa trama política repleta de ação e reviravoltas.
     Você deve concordar comigo que essa é uma base bem sugestiva para um bom romance steampunk, desses que proliferam e se alastram como nuvens aquecidas de vapor no meio contemporâneo da literatura fantástica nacional. O que você jamais adivinharia é que esse é o “plot” básico do álbum gráfico “Turma da Mata - Muralha”, da coleção “Graphic MSP” que a equipe de Mauricio de Sousa tem produzido com competência extraordinária, capitaneada pelo genial Sidney Gusman.


     Sim, aqueles animaizinhos antropomórficos que viviam na Mata do Chapadão, e que você lia nos gibis da Turma da Mônica, agora ganham uma versão revitalizada, num “antropomorfismo” e num texto direcionados a um público mais maduro, o que é a premissa básica da coleção “Graphic MSP”. Ah,e também é steampunk!
     O texto é de Artur Fujita, os desenhos do veteraníssimo Roger Cruz, e as cores de Davi Calil, um time afinadíssimo e escolhido a dedo para este que passa ser, para mim, o melhor de todos os álbuns já lançados da coleção, desbancando “Piteco”, do Shiko (bem, de todos os lançados só me falta adquirir – e ler – um álbum, então isso é bem significativo).
     Falando em “Piteco”, recordo nitidamente de um FIQ, em Belo Horizonte, quando o Sidney Gusman me mostrou os primeiros esboços gráficos do que viria a ser, no ano seguinte, a coleção MSP. Na época não era mais que um projeto, mas lembro-me bem de minha reação: “Sidão, isso VAI SER um sucesso! Isso SIM é renovação!” E a imagem que mais me marcou foi exatamente a da graphic do Piteco. Tempos depois, quando li o álbum pronto, ficou sendo meu preferido. Senti uma enorme gratidão ao Sidney e ao Mauricio; eu, que cresci aprendendo a ler nas páginas de Mônica e Cebolinha, e que acabei abandonando os títulos na medida em que envelheci, e passei a me interessar por outro patamar de livros e quadrinhos, senti a alegria de poder voltar àqueles velhos personagens, agora amadurecidos e adequados especialmente a mim e ao público que, como eu, cresceu, e sentia, em algum lugar lá no fundo, alguma saudade dos velhos amigos distantes.
     A essência da Turma da Mata está lá: a natureza doce e tímida do elefante verde Jotalhão (sem faltar a piadinha fazendo referência à massa de tomate...), a tensão romântica entre ele e Rita Najura, recriando a velhissíssima piada da formiguinha e do elefante que já divertia nas HQs infantis, o gênio tecnológico do Tarugo, que agora, em vez de um casco com teto solar e rodas, pilota um exoesqueleto de combate steam. O Coelho Caolho fica caolho de verdade, convertido num guerreiro veterano. Mas o legal, aparte da respeitosa manutenção dessas referências, foi que Fujita e Cruz foram capazes de dar uma densidade bem maior aos personagens, assim como à dinâmica entre eles.

     Esse álbum, nacional da gema, reproduziu dentro de mim o mesmo encanto que senti quando degustei a série (também de animais antropomórficos) “Blacksad”, dos espanhóis Juan Días Canales e Juanjo Guarnido, publicada pela francesa Dargaud, e que chegou a ter uns poucos álbuns lançados no Brasil.
     Amigo Sidão, esse merece sequência. Merece virar série regular. Não, merece virar animação. Sei que você é um cara que pensa grande. Pois fique aí, com mais essa minhoquinha dentro da mente. E obrigado, mais uma vez!